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Isabel dos Santos, economic crimes and a high authority against corruption

It is public that the Angolan authorities issued an international warrant for Isabel dos Santos.

The merits of the warrant is not discussed, because without knowing the concrete accusations it will be all speculation, but it is important to pay attention to the opportunity. And what catches the eye, in terms of opportunity, is the time that took place between the departure of Isabel dos Santos de Angola (August 2018) or the publication of the so-called Luanda Leaks (January 2020) that would compromise it in unshakable and the issuance of the warrant (November 2022). That is, between two and four years to issue a warrant.

Obviously, it is too much time without listening directly and personally Isabel dos Santos in criminal proceedings with the public and notorious scope of them.

This temporal gap makes it question what failed in the Angolan judiciary. The answer seems to be in the model followed in Angola in the so-called “fight against corruption”, or, generalizing, in the big economic crime.

Angolan authorities chose to refer cases of large economic crime to the common means, Attorney General’s Office, Ordinary Courts, etc. The problem is that questions of “state capture” or “privatization of sovereignty” such as those that happened in Angola would hardly be resolved by the common means that have their times and bureaucratized practices, often committed to the actors themselves from supposed Crimes.

The fight against economic crime at this level of “state capture” has required several countries in which it happens, the creation of special instruments to overcome the above structural obstacles.

One can start with the United States, where situations of great severity with political impact, such as investigations to Richard Nixon, Bill Clinton or Donald Trump have been based on the appointment of an independent counsel attorney. These independent prosecutors have their own powers and may exceed normal federal structures.

In South Africa, where the expression “capture of the state” emerged, the option was the creation of a powerful commission of Inquiry into Allegations of State Capture, better known as the Zondo Commission, the name of the judge who presided over to the commission. This commission has led to an exhaustive and independent investigation work that originated several reports that now serve as a basis for criminal accusations. It also existed in Ukraine, before the war, the creation of a system supported by several international entities.

The essential point of this very brief international court is that very serious corruption situations that undermine the viability or survival of the state impose combat solutions that leave the sphere of the normal judiciary, which will also be plagued by the same corruption problems and “State capture”. Therefore, the difficulties that the fight against economic crime finds in Angola are normal, and it is important to change the structure and methodology.

The change in the structure and methodology of combating corruption in Angola is based on the institution of a high authority against corruption with its own and independent judicial powers to investigate, accuse and bring to trial the large cases of corruption in a single judicial system. High authority against corruption could investigate, interrogate, seize, search and decree precautionary measures under the law and then have a chamber for trials or directly refer to a new chamber of economic crimes with the Supreme Court. Operating in the constitutional and legal framework, this authority would be a specific organism for repressing corruption. This high authority would have exclusive competence for all the main cases of corruption and would make the necessary international crosses.

Nations need specific, focused and flexible structures to combat the most evolved economic crime as is big corruption. In Angola, it urges such a structure. It is important to take this step in the area of ​​economic crime.

Isabel dos Santos, crimes económicos e uma alta autoridade contra a corrupção

É público que as autoridades angolanas emitiram um mandado de captura internacional relativo a Isabel dos Santos.

Não se discute o mérito do mandado, pois sem conhecer as acusações concretas será tudo especulação, mas atenta-se na oportunidade. E o que chama a atenção, em termos de oportunidade,  é o espaço de tempo que decorreu entre a saída de Isabel dos Santos de Angola (Agosto de 2018) ou a publicação dos denominados Luanda Leaks (Janeiro de 2020) que a comprometeriam de forma inabalável e a emissão do mandado (Novembro de 2022). Isto é, entre dois e quatro anos para emitir um mandado.

Obviamente, que é tempo demais sem ouvir direta e pessoalmente Isabel dos Santos em processos criminais com a pública e notória envergadura destes.

Este hiato temporal faz questionar sobre o que falhou no sistema judiciário angolano. A resposta parece encontrar-se no modelo seguido em Angola na chamada “luta contra a corrupção”, ou, generalizando, no grande crime económico.

As autoridades angolanas optaram por remeter os casos de grande crime económico para os meios comuns, Procuradoria-Geral da República, Tribunais ordinários, etc.  O problema é que questões de “captura do Estado”, ou “privatização da soberania” como as que aconteceram em Angola dificilmente seriam resolvidas pelos meios comuns que têm os seus tempos e as suas práticas burocratizadas, muitas vezes comprometidas com os próprios atores dos supostos crimes.

A luta contra o crime económico a este nível de “captura do Estado” tem exigido nos, vários países em que acontece, a criação de instrumentos especiais para ultrapassar os obstáculos estruturais acima referidos.

Pode-se começar pelos Estados Unidos, onde situações de grande gravidade com impacto político, como as investigações a Richard Nixon, Bill Clinton ou Donald Trump têm assentado na nomeação de um Procurador Independente ( independent counsel). Estes procuradores independentes têm poderes próprios e podem ultrapassar as estruturas federais normais.

Na África do Sul, onde surgiu com extrema relevância a expressão “captura do Estado”, a opção foi a criação de uma poderosa Comission of Inquiry into Allegations of State Capture, mais conhecida como Comissão Zondo, nome do juiz que presidiu à Comissão. Esta Comissão levou a cabo um exaustivo e independente trabalho de investigação que originou vários relatórios que agora servem de base para acusações criminais. Também existiu na Ucrânia, antes da guerra, a criação de um sistema apoiado por várias entidades internacionais.

O ponto essencial deste muito breve excurso internacional é que situações de corrupção muito grave que colocam em causa a viabilidade ou sobrevivência do Estado impõem soluções de combate que saem da esfera do sistema judiciário normal, que porventura estará também assolado pelos mesmos problemas de corrupção e “captura de Estado”. Portanto, são normais as dificuldades que o combate ao crime económico encontra em Angola, sendo importante mudar a estrutura e a metodologia.

A mudança da estrutura e metodologia do combate à corrupção em Angola assenta na instituição duma Alta Autoridade contra a Corrupção com poderes judiciais próprios e independentes para investigar, acusar e levar a julgamento os grandes casos de corrupção num sistema judiciário e judicial único. A Alta Autoridade contra a corrupção poderia investigar, interrogar, apreender, fazer buscas e decretar medidas cautelares nos termos da Lei e depois teria uma Câmara para julgamentos ou remeteria diretamente a uma nova Câmara de crimes económicos junto do Tribunal Supremo. Operando no quadro constitucional e legal, esta Autoridade seria um organismo específico para reprimir a corrupção. Esta Alta Autoridade teria competência exclusiva para todos os casos principais de corrupção e faria os cruzamentos internacionais necessários.

As nações necessitam de estruturas específicas, focadas e flexíveis para combater a criminalidade económica mais evoluída como é a grande corrupção. Em Angola, urge uma estrutura desse tipo. É importante dar este passo na área da criminalidade económica.

The new threats and the reinforcement of the Angolan Armed Forces

New threats to Angola

Angola’s history has been one of constant and overcoming challenges, and its survival as a single entity has been threatened since independence in 1975. It is never too much to remember that independence itself was declared at different times and in different places by different entities, with greater or less legitimacy. Agostinho Neto proclaimed the independence of the People’s Republic of Angola at 11 pm on November 11, 1975, in Luanda. Holden Roberto, leader of the FNLA, announced the Independence of the People’s Democratic Republic of Angola at midnight on November 11, in Ambriz and Jonas Savimbi did the same for UNITA in what was then Nova Lisboa on the same day, declaring the birth of the Republic Social Democratic Republic of Angola.

 Immediately, a civil war followed that more or less sporadically, covering larger or smaller areas, lasted until 2002. Attempts at external invasion were also frequent, South Africa, even before independence, entered Namibia and Mobutu’s Zaire the same to the north. Then it was Cuba’s turn, at the invitation of the Luanda government to also enter the country to counter the other invasions[1]. Indirect interventions by the then superpowers also abounded, and it is unnecessary to recall the threats of disintegration that the country experienced until the end of the civil war in 2002.

After that date, the threats posed to Angola diminished, although many remained latent and others emerged, such as those linked to the capture of the State and corruption[2].

Currently, there is an increase in external threats after 2002, not assuming the dramatic contours of the years after independence, but posing demanding challenges to the forces defending sovereignty, territorial integrity and national public order.

Separatism

Internally, we can see the rekindling of separatist attempts, both in Lundas and in Cabinda, which could be a trigger for other initiatives. In relation to Cabinda, reports have recently appeared on social media, replicated in some media of clashes between the armed wing of the Front for the Liberation of the State of Cabinda (FLEC) and the Angolan Armed Forces (FAA)[3]. These attacks, real or virtual, follow several complaints from the Democratic Republic of Congo (DRC) about Angolan incursions into its territory in apparent hot pursuit of FLEC members. Last August, the Chief of Staff of the Armed Forces of the DRC, Célestin Mbala Musense, criticized alleged incursions by the Angolan Navy into the country’s territorial waters in operations against rebels in Cabinda and claimed that FAA soldiers were multiplying incursions into the country, persecuting FLEC rebels[4].

Alongside this possible military upsurge, which is uncertain and about which there is no reliable information, there is a duly publicized current of opinion that invokes the need for a solution, although it is not clear what it is, or is tired of a confrontation.

The truth is that the Constitution of Angola (CRA) in its articles 5 and 6 is determinant: “… no part of the national territory or of the sovereign rights that the State exercises over it may be alienated.” It should be noted that this formulation implies that any territory always remains an integral part of the State, but does not prohibit different statutes and approximations, such as the establishment of autonomies always integrated into the national whole and of local authorities, more or less decentralized.

There is, therefore, a constitutional duty to combat any attempt at territorial secession, the CRA admitting the use of force to make this happen (“energetically fought”). In this context, the FAA will play a crucial role in preventing any dismemberment. In addition to constitutional law, it is also easy to see that any separation or “detachment” of Cabinda from Angola would have a disintegrating effect on the country, which as we know, historically, is a recent construction in progress.

This leads to the second threat of the same separatist type that exists in the Lundas. In January 2021, there was a bloody confrontation, the contours of which were duly described in Rafael Marques’ text, “”Miséria & Magia.[5]” In addition to socio-economic aspects, the event has been seen as linked to independence attempts by a self-styled Movement of the Portuguese Protectorate Lunda Tchokwe (MPPLT).

It is evident, in the first place, it is the duty of the State and the government to deal with the grievances of local populations, taking into account their developmental, economic and social demands. It is primarily a question of politics and progress. However, it is not worth ignoring that in the end, national integrity and sovereignty will always have to be guaranteed, and the FAA may play a decisive role in ensuring territorial cohesion.

That is why it is considered that a real threat to the sovereignty of Angola are the separatist impulses or intentions of part of its territory, with the FAA as the mainstay of the State to guarantee the integrity and unity of the State.

State capture and corruption

The second internal threat is linked to the aforementioned capture of the State and the fight against corruption. The option of political power was to hand over the fight against corruption to the common judicial means, therefore, this is not a function of the FAA, but of the police forces, criminal investigation and judiciary. The FAA only enters in what refers to the “capture of the State”. If forces or entities that benefit from corruption try to affect the normal functioning of the Rule of Law and Justice, weakening political power, it can be understood that the FAA will have a duty to defend constitutionality and legality, not intervening in specific judicial proceedings, but guaranteeing the conditions of tranquility and peace for the normal judiciary bodies to do their work. This is a difficult line to draw for the actions of the military, so the posture here must be understood as one of surveillance and symbolic support for the activity of the police forces and not of direct intervention.

If separatism and “state capture” are threats to sovereignty and peace in Angola, from the external point of view there are more and varied threats that have to be listed and have increased in recent years, requiring special attention from the FAA. The following stand out as external threats:

i) instability in neighboring countries, namely the DRC;

ii) the spread of terrorism designated as Islamic;

iii) crime and maritime piracy;

iv) increased competition between world powers with interests in African goods.

A few quick words about each of these segments:

i) instability in neighboring countries, namely the DRC

Although for the first time in 2018/2019 there was a peaceful transition of power in Congo (DRC), the truth is that the situation in this huge country is far from under control. The porosity with the Angolan border is a fact that is usually mentioned, but the main problem is that Tshisekedi, the President of the Republic and the state apparatus do not seem to control vast areas of the country that, according to some, are subject to militias promoted by Rwanda to search richness for processing in that country. A recent article by the Angolan professor and member of the Angolan government party, Benjamim Dunda, states that “What some do not know is that Rwanda is the gateway to the looting of excessive mineral resources in the DRC. Much of the endless instability of the neighboring nation of Mobutu has Kagame’s fingerprints. The Rwandan Patriotic Army (EPR) and Ugandan military, militarily occupy part of the territory of the DRC. Coltan (columbite and tantalite) is currently the most coveted ore in the technology industries worldwide. 80% of the world’s reserves are in the Democratic Republic of Congo.[6]” Without Dunda’s exalted tone, Laura McCreedy, from the International Peace Institute’s Center for Peacekeeping Operations, is on the same wavelength, referring already this month to reports of the resumption of proxy violence – attributed to Uganda, Rwanda and Burundi – as well as recent offensive operations against Allied Democratic Forces (ADF) by Ugandan forces and the alleged presence of Rwandan police and Burundian troops in eastern DRC, which is particularly alarming[7].

What appears is that there is a latent conflict in the DRC that is far from being resolved, to which is added a kind of asymmetric invasion, using the techniques popularized by Vladimir Putin in Crimea and Ukraine, by forces from Rwanda and perhaps Uganda within the DRC. This could soon provoke a more intense and not so covert war in the country with obvious effects in Angola. We shouldn’t forget that Angola was present in the so-called First Congo Civil War (1996-1997) and Second Congo Civil War (1998-2003), in addition to having directly or indirectly intervened in subsequent relevant moments in the DRC’s history. Consequently, it will not be indifferent to the evolution of the situation in the DRC and to this kind of discreet or disguised invasion that takes place, with the FAA having at least a deterrent role.

ii) the spread of terrorism designated as Islamic

The Angolan religious reality would not suggest an imminent danger from Islamic terrorism. However, there are two factors that must be taken into account to increase the degree of danger of Islamic terrorism in Angola.

The first factor is that what is often called “Islamic terrorism” does not have a real religious connotation, but represents a kind of franchise or brand adopted by insurrectionary movements or guerrillas in economically and socially degraded areas. This means that it is possible that in disaffected areas in Angola there may arise “Islamic” terrorist movements, which have nothing but Mohammedan but the designation, adopted to instill fear and terror in the populations and authorities. In fact, it seems clear that several Islamic terrorist movements that emerge in Africa are not the result of a command or central planning, but are more or less autonomous cells that imitate and mutually inspire, seeking common elements in propaganda and methodologies. As Chatham House experts Alex Vines and Jon Wallace put it, “[In Africa, the] line between jihadism, organized crime and local politics is often blurred and further complicated by global factors such as climate change, population and migration.[8] ” This means that the aforementioned “broth” can arise in Angola, and suddenly, the Islamic flag will be attractive to insurrectionary groups dissatisfied with the government.

Added to this first factor is the spreading across the African continent in relation to Islamic terrorism and which is gradually surrounding Angola. In the neighboring DRC, although still far from the Angolan borders, there is already talk of Islamic terrorism regarding the ADF (Allied Democratic Forces), with links between this organization and the Islamic State. In Tanzania, there are small attacks such as those in October 2020, in the village of Kitaya in the Mtwara region; attack that was claimed by Islamic extremists operating from northern Mozambique. Obviously, the case of Cabo Delgado in Mozambique is paradigmatic of the combination that can be foreseen for Angola, a socio-economic discontent allied to the emergence of Islamic terrorism. Further north, whether in the Central African Republic, Chad or Nigeria, there is a permanent threat from terrorist groups that identify themselves as Islamic.

The porosity of the borders, allied to the socio-economic difficulties, become powerful magnets for the expansion of terrorism that can become an internal threat in Angola, and it is certainly already a border threat and spreading across the African continent.

iii) crime and maritime piracy

From Cape Verde to the Angolan coast, attacks on ships have increased in recent years. In this vast maritime region, pirates – initially concentrated around the Niger Delta – extended their activities to all Nigerian coasts, as well as Benin and Togo. Since 2011, no less than 22 acts of piracy have been recorded in Benin, affecting traffic in the port of Cotonou, which has dropped by 60%. The massive economic impact of maritime crime – which includes illegal fishing, drug trafficking and weapons – on the coasts of West Africa increases every year. The Gulf of Guinea is now considered the continent’s maritime red zone[9].

Angola’s position has been clear, assuming itself as a strategic engine in the fight against piracy, pointing to the creation of a government funding strategy in the Gulf of Guinea and in the Great Lakes region, recognizing that crime has been growing in this area, endangering the region itself from a national, international and regional point of view. It is in this perspective that Angola attaches great importance to the maritime spaces that have to be controlled. In fact, of the 90 percent of crimes committed in the Atlantic Ocean, 70 percent occur in the Gulf of Guinea, which is worrying.

iv) increased competition between world powers with interests in African goods

This situation is more general and perhaps less imminent in causing disruption than the previous ones, however it exists and in the medium term could be the main threat to Angola. Some authors speak of a new “race for Africa”, such as those that took place at the end of the 19th century in connection with the Berlin Conference and after independence in the context of the Cold War. Angola was obviously a central part of both “races”. The first served to delimit its borders and complete the Portuguese colonial intervention, while in the second, it was one of the main battlefields of the US-Soviet Union confrontation. The prestigious English magazine The Economist summarized in 2019 the new, and third, rush to Africa, writing that there is a third wave in the works. The continent is important and is becoming increasingly important, mainly because of its growing share of the global population (by 2025 the UN predicts that there will be more Africans than Chinese). Governments and companies around the world are racing to strengthen diplomatic, strategic and commercial ties[10]. In fact, those who first discerned the continent’s opportunities were the Chinese who, since the beginning of the 21st century, have invested heavily in Africa, with Angola as their main partner, at least in terms of debt. The rest of the world has only just woken up to Africa. But in fact, we see Turkey in search of new markets and allies since it abandoned its alignment with the European Union, the Persian Gulf countries in the same line looking for diversification projects for their economies, and the European Union, led by Germany and France, with Italy and Spain also intensively recovering old ones and arranging new contacts, either for economic reasons or to try to stop the illegal immigration that affects their countries and can cause their governments to lose elections. Also Russia, in the mix of imperial recovery and business demand, returns to Africa. Only the United States of America has pursued a dormant policy towards the continent since Donald Trump, not yet understanding very well what they are doing in substance, apart from some noises against China and/or about Islamic terrorism. However, this lethargy can end.

At the moment, China is far ahead in the new race for Africa. As soon as Europeans and North Americans definitively understand – we are still in an ambivalent stage – that the Chinese presence in Africa is a threat to their geopolitical and economic interests, competition will intensify. It should be remembered that China currently absorbs around 60% of cobalt exports from Africa; 40% iron; and 25-30% of its exports of chromium, copper and manganese.

Consequently, Angola’s role as holder of key raw materials and a stabilizing force for the DRC, another immense repository of resources, will be decisive.

The current moment of the FAAs

In view of the above, it is easy to understand that these times is of great demand for the FAAs, who can once again be called upon to perform functions of national survival.

At this time, according to the most credible sources, the FAAs are comprised of approximately 107,000 active soldiers (100,000 Army; 1,000 Navy; 6,000 Air Force); there are still an estimated 10,000 in the Rapid Intervention Police (2021)[11].

Military expenditure is around 1.7% of GDP, therefore, below the 2% that the United States intends as a parameter for NATO countries (North Atlantic Treaty Organization of which Angola is obviously not a part, but whose parameter can serve as an ideal value of military expenditure). It is not an exaggerated expense, on the contrary, one might think.

Most Angolan military weapons and equipment are of Russian, Soviet or Warsaw Pact origin; since 2010, Russia remains the main supplier of military equipment to Angola[12].

Regarding its military capability in 2022, Angola is ranked 66th among 140 countries considered by Global Fire Power[13]. Its forces include 320 tanks, 1210 armored vehicles, and several artillery pieces. It should be noted, however, that tanks are essentially old, acquired in the 1990s from the Soviet Union. From our research, we could only find a reasonably modern (2016) tank-destroyer type vehicle, the PTL-02 Assaulter purchased from China. As for the naval forces, despite having an extended coastline and responsibilities in the Gulf of Guinea, the country only has 37 patrol boats and no medium or larger ships such as corvettes, frigates or cruisers.

As for the Air Force, there are 299 planes, of which 71 are fighters, 117 are helicopters and 15 are attack helicopters.

A recent analysis by Africa Monitor, which, it should be noted, has reflected a critical stance on the part of João Lourenço’s government, presents an alleged factuality, which, even if it is exaggerated or represents an overly pessimistic perspective, paints a less than encouraging picture of the readiness and material from the Angolan Air Force and Navy. Second, this publication, the navy fleet has its operational levels chronically “impaired by non-compliance with maintenance requirements and/or unpreparedness of its crews.[14]” In the Air Force, too, paralysis will be the keyword. According to the same newspaper, “the units of the transport helicopter fleet that were still operating (Russian-built Mil Mi-8) will be paralyzed, either aircraft from the 1980s-1990s, or units reconditioned later”, there is a “inability to ensure the maintenance of combat helicopters (Mil Mi-24)” and also in “a situation of near paralysis (…) Sukhoi (Su-22, Su-25, Su-30, Su-27).[15] ”Specialists with whom we have contacted directly and who prefer to remain anonymous assure that in recent years there has been no significant purchase of military material. So apparently there may be a need for reinforcement with these branches of the military.

In summary, there are three types of needs in the Armed Forces: obsolete and not modernized material, lack of equipment maintenance and unpreparedness of some cadres for specific activities. This obviously makes it important to intervene in the FAAs in order to increase their budget and increase their operational capacity in the face of the challenges described.

FAA modernization vectors

From all the above, two basic assumptions result that lead us to a simple conclusion. The assumptions are that threats to Angola’s sovereignty and integrity have increased in recent years after a period of some calm after 2002. Today the country faces a new “race for Africa” by the great and emerging powers, the threat of so-called Islamic terrorism spreads across the continent and piracy and criminality in the Gulf of Guinea along the coast is a reality. Added to this is the renewal of internal separatist tendencies and the strong reaction of the formerly dominant oligarchy to the fight against corruption. These facts correspond, at this moment, to some FAAs with some gaps in terms of material, readiness and training, which may, eventually, make an adequate reaction unfeasible in the event of an increase in any of the exposed threats.

It follows from the equation of these assumptions that an FAA modernization policy in terms of equipment, training and readiness/maintenance is essential. On the contrary, what many would claim, a reinforcement of the military budget and a modernizing reform of the Armed Forces is necessary.

The General State Budget for 2022 does not yet fully reflect these needs. If we look at it, from 2021 to 2022 there is a nominal increase in defense spending of 19.7%. It is enough to think that official inflation is around 27% in 2021[16] to realize that in real terms defense spending is decreasing, probably leading to cuts in the military sphere. In turn, defense spending is equivalent to 1.4% GDP[17].

We understand that the modernization of the FAA has a qualitative vector that must be defined by specialists in the area and involve the readiness of the Armed Forces, their implementation capacity and levels of sustainability, as well as the quality of the force they can exert. However, the vector that we focus on in this report is quantitative and we present the very simple suggestion already adopted by the countries of the North Atlantic Treaty Organization (NATO), which is to place defense expenditure at around 2% of GDP[18] . This is not a magic number and can be subject of much criticism, but it represents an objective and quantifiable parameter, and in fact gives political power a measurable instrument to achieve[19] , which can be an advance in good governance and transparency policies that intend to implement in Angola.


[1] Cfr. Pedro Pezarat Correia (1991), Descolonização de Angola: jóia da coroa do império português, Lisboa: Inquérito; Silva Cardoso (2000) Angola, anatomia de uma tragédia, Lisboa: Oficina do Livro; «Involvement in the Angolan Civil War, Zaire: A Country Study». United States Library of Congress;

 Donald S. Rothchild (1997). Managing Ethnic Conflict in Africa: Pressures and Incentives for Cooperation. Brookings Institution Press. pp. 115–116; Ndirangu Mwaura, (2005). Kenya Today: Breaking the Yoke of Colonialism in Africa. pp. 222–223; Chester A Crocke, Fen Hampson, Pamela Aall, Pamela (2005). Grasping The Nettle: Analyzing Cases Of Intractable Conflict.

[2] For a good definition of these themes in South Africa, but with conceptual application to Angola, see Judicial Commission of Inquiry into State Capture Report: Part 1  [Zondo Report] (2022).

[3] Simão Lelo, (2022), Ataques em Cabinda: Aumentam apelos para uma solução, Deutsche Welle, https://www.dw.com/pt-002/ataques-em-cabinda-aumentam-apelos-para-uma-solu%C3%A7%C3%A3o/a-60489955

[4] Copy of documents held by CEDESA and referred to in the press, for example, in https://e-global.pt/noticias/lusofonia/angola/chefe-do-estado-maior-congoles-protesta-contra-violacoes-do-territorio-por-angola/

[5] Morais, Rafael, (2021), Miséria & Magia, MakaAngola & UFOLO.

[6] Benjamin Dunda (2022), O que não dizem do Ruanda e de Kagame, https://camundanews.com/noticia/9593/dupla-nacionalidade-da-presidente-do-tribunal-constitucional-nao-viola-constituicao.html

[7] Laura McCreedy (2022), What Can MONUSCO Do to Better Address the Political Economy of Conflict in DRC? https://reliefweb.int/report/democratic-republic-congo/what-can-monusco-do-better-address-political-economy-conflict-drc

[8] Alex Vines e Jon Wallace, (2021), Terrorism in Africa, Chatham House, https://www.chathamhouse.org/2021/09/terrorism-africa

[9] Baudelaire Mieu (2021), Cameroon, Nigeria, Angola: Increased pirate activity along western coasts, The Africa Report, https://www.theafricareport.com/70478/cameroon-nigeria-angola-increased-pirate-activity-along-western-coasts/

[10] The Economist (2019), The new scramble for Africa, https://www.economist.com/leaders/2019/03/07/the-new-scramble-for-africa

[11] Angola. The World Factbook (2022) CIA, https://www.cia.gov/the-world-factbook/countries/angola/#military-and-security

[12] Same as above note

[13] Cfr. https://www.globalfirepower.com/country-military-strength-detail.php?country_id=angola 

[14] África Monitor, Nº 1334 |20.JAN.2022 |Ano XIX.

[15] Same as above note

[16] https://www.bna.ao/#/, taxa de inflação apresentada a 28-01-2022 é de 27,03%.

[17] Ministério das Finanças, (2021), RELATÓRIO DE FUNDAMENTAÇÃO

Orçamento Geral do Estado 2022, p.68.

[18] North Atlantic Treaty Organization, (2014) “Wales Summit Declaration,” press release,

September 5, www.nato.int/cps/en/natohq/official_texts_112964.htm

[19] About the criticisms and advantages see Jan Techau (2015), THE POLITICS OF 2 PERCENT. NATO and the Security Vacuum in Europe. Carnegie Foundation.

As novas ameaças e o reforço das Forças Armadas Angolanas

Novas ameaças a Angola

A história de Angola tem sido uma constante de desafios e superações, tendo estado a sua sobrevivência como entidade única ameaçada desde a independência em 1975. Nunca é demais lembrar que a própria independência foi declarada em diferentes horas e vários locais por entidades diversas, com maior ou menor legitimidade. Agostinho Neto proclamou a independência da República Popular de Angola às 23h de 11 de novembro de 1975, em Luanda. Holden Roberto, líder da FNLA, anunciava a Independência da República Popular e Democrática de Angola à meia-noite do dia 11 de novembro, no Ambriz e Jonas Savimbi fazia o mesmo pela UNITA na então Nova Lisboa no mesmo dia, declarando o nascimento da República Social Democrática de Angola.

Imediatamente, seguiu-se uma guerra civil que mais ou menos esporadicamente, abrangendo maiores ou menores áreas, durou até 2002. As tentativas de invasão externa também foram frequentes, a África do Sul ainda antes da independência entrou pela Namíbia e o Zaire de Mobutu fez o mesmo a norte. Depois foi a vez de Cuba, a convite do governo de Luanda também entrar no país para contrapor as outras invasões.[1]As intervenções indiretas das então superpotências, também abundaram, sendo desnecessário recordar as ameaças de desintegração que o país viveu até ao final da guerra civil em 2002.

Depois dessa data as ameaças que se colocaram a Angola diminuíram, embora muitas permanecessem latentes e outras surgissem como as ligadas à captura do Estado e corrupção.[2]

Na atualidade, há um incremento das ameaças externas pós 2002, não assumindo os contornos dramáticos dos anos a seguir à independência, mas colocando exigentes desafios às forças de defesa da soberania, integridade territorial e ordem pública nacional.

Separatismo

A nível interno, vislumbra-se o reacender das tentativas separatistas, quer nas Lundas, quer em Cabinda, que poderão ser rastilho para outras iniciativas. Relativamente a Cabinda surgiram recentemente relatos nas redes sociais, replicados nalguns órgãos de comunicação social de confrontos entre o braço-armado da Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC) e as Forças Armadas Angolanas (FAA).[3] Esses ataques, reais ou virtuais, sucedem-se a várias queixas da República Democrática do Congo (RDC) acerca de incursões angolanas no seu território em aparente hot pursuit de membros da FLEC. Em agosto passado, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da RDC, Célestin Mbala Musense, criticava supostas incursões da Marinha angolana em águas territoriais do país em operações contra rebeldes de Cabinda e afirmava que os soldados das FAA estariam a multiplicar as incursões na perseguição aos rebeldes da FLEC. [4]

A par deste eventual recrudescimento militar, que não é certo e sobre o qual não existe informação fidedigna, surge uma corrente de opinião devidamente publicitada que invoca a necessidade de uma solução, embora não se perceba qual seja, ou se apresenta cansada de um confronto.

A verdade é que a Constituição de Angola (CRA) no seu artigo 5.º, n.º 6 é determinante ao prescrever que: “O território angolano é indivisível, inviolável e inalienável, sendo energicamente combatida qualquer acção de desmembramento ou de separação de suas parcelas, não podendo ser alienada parte alguma do território nacional ou dos direitos de soberania que sobre ele o Estado exerce.” Note-se que esta formulação implica que qualquer território permaneça sempre como parte integrante do Estado, mas não proíbe diferentes estatutos e aproximações, como o estabelecimento de autonomias sempre integradas no todo nacional e de autarquias locais, mais ou menos descentralizadas.

Há, portanto, um dever constitucional de combater qualquer tentativa de secessão territorial, admitindo a CRA o uso da força para que tal aconteça (“energicamente combatida”). Neste âmbito as FAA desempenharão um papel crucial em evitar qualquer desmembramento. Além do direito constitucional, também é fácil de perceber que qualquer separação ou “desligamento” de Cabinda face a Angola teria um efeito desagregador do país, que como se sabe, historicamente, é uma construção recente e em progresso.

Isso leva à segunda ameaça do mesmo tipo separatista existente nas Lundas. Em janeiro de 2021, houve um confronto sangrento, cujos contornos foram devidamente descritos no texto de Rafael Marques, “”Miséria & Magia.”[5]Além de aspetos socioeconómicos, o evento tem sido visto como ligado às tentativas independentistas de um autodesignado Movimento do Protetorado Português Lunda Tchokwe (MPPLT).

É evidente que, em primeiro lugar é dever do Estado e do governo tratar os agravos das populações locais atendendo às suas reivindicações de cariz desenvolvimentista, económico e social. Trata-se primordialmente duma questão política e de progresso. Contudo, não vale a pena ignorar que no final haverá sempre que garantir a integridade e soberania nacionais e as FAA poderão ter um papel determinante para assegurar a coesão do território.

É por isso que se considera que uma ameaça real à soberania de Angola são as pulsões ou intenções separatistas de parte do seu território, cabendo às FAA como esteio do Estado garantir a integridade e unidade do Estado.

Captura do Estado e corrupção

A segunda ameaça existente a nível interno liga-se com a referida captura do Estado e combate à corrupção. A opção do poder político foi entregar o combate à corrupção aos meios judiciais comuns, portanto, tal não é uma função das FAA, mas das forças policiais, de investigação criminal e magistraturas. As FAA apenas entram naquilo que se refere à “captura do Estado”. Se porventura forças ou entidades que beneficiarem da corrupção tentem afetar o normal funcionamento do Estado de Direito e da Justiça, fragilizando o poder político, pode-se entender que as FAA terão o dever de defender a constitucionalidade e a legalidade, não intervindo nos processos judiciais concretos, mas garantindo as condições de tranquilidade e paz para que os órgãos judiciários normais façam o seu trabalho. Esta é uma linha difícil de traçar para a atuação dos militares, pelo que a postura aqui deve ser entendida como de vigilância e simbólica de suporte à atividade das forças policiais e não de intervenção direta.

Se o separatismo e a “captura de Estado” são as ameaças à soberania e paz em Angola, do ponto de vista externo existem mais e variadas ameaças que têm que ser elencadas e aumentaram nos últimos anos, obrigando a uma especial atenção das FAA. Destacam-se como ameaças externas:

  1. a instabilidade em países vizinhos, designadamente a RDC;
  2. o alastramento do terrorismo designado como islâmico;
  3. crime e pirataria marítima;
  4. o aumento da concorrência entre as potências mundiais com interesses em bens africanos.

Algumas palavras rápidas sobre cada um destes segmentos:

  1. a instabilidade em países vizinhos, designadamente a RDC

Embora pela primeira vez tenha ocorrido em 2018/2019 uma transição pacífica de poder no Congo (RDC), a verdade é que a situação nesse enorme país está longe de estar controlada. A porosidade com a fronteira de Angola é um facto, habitualmente, referido, mas o problema essencial é que Tshisekedi, o Presidente da República e o aparato estatal parecem não controlar vastas zonas do país que, segundo alguns, estão submetidas a milícias fomentadas pelo Ruanda para buscar riquezas para processamento nesse país. Recente artigo do docente angolano e membro do partido do governo angolano, Benjamim Dunda, refere que “O que alguns não sabem é que Ruanda é a porta de entrada e saída da pilhagem dos excessivos recursos minerais da RDC. Boa parte da interminável instabilidade da vizinha nação de Mobutu, tem as impressões digitais de Kagame. O Exército Patriótico Ruandês (EPR) e militares do Uganda ocupam militarmente parte do território da RDC. O Coltan (columbita e tantalita) é actualmente o minério mais cobiçado mundialmente pelas indústrias de tecnologia. 80% das reservas mundiais encontram-se na República Democrática do Congo.”[6] Sem o tom exaltado de Dunda, Laura McCreedy, do Centro de Operações de Paz do International Peace Institute afina pelo mesmo diapasão, referindo já este mês existiram relatos da retomada da violência por procuração (proxy violence) – atribuída ao Uganda, Ruanda e Burundi – bem como as recentes operações ofensivas contra as Forças Democráticas Aliadas (ADF) pelas forças de Uganda e a suposta presença da polícia ruandesa e tropas burundesas no leste da RDC, o que é particularmente alarmante[7].

O que aparenta é que existe um conflito latente na RDC que está longe de ser resolvido, a que acresce uma espécie de invasão assimétrica, utilizando as técnicas popularizadas por Vladimir Putin na Crimeia e Ucrânia, por forças do Ruanda e talvez do Uganda dentro da RDC. Isto pode provocar a breve trecho uma guerra mais intensa e não tão dissimulada no país com efeitos óbvios em Angola. Não esquecer que Angola esteve presente nas denominadas Primeira Guerra Civil do Congo (1996-1997) e Segunda Guerra Civil do Congo (1998-2003), além de ter intervindo direta ou indiretamente nos momentos relevantes subsequentes da história da RDC. Consequentemente, não será indiferente ao evoluir da situação na RDC e a esta espécie de invasão discreta ou disfarçada que ocorre, tendo as FAA, pelo menos um papel dissuasor.

2. o alastramento do terrorismo designado como islâmico

A realidade religiosa angolana não faria antever um perigo iminente proveniente do terrorismo islâmico. No entanto, existem dois fatores que devem ser tidos em conta para aumentar o grau de perigo do terrorismo islâmico em Angola.

O primeiro fator é que aquilo que muitas vezes se chama “terrorismo islâmico” não tem uma real conotação religiosa, mas representa uma espécie de franquia ou marca adotada por movimentos ou guerrilhas insurrecionais em zonas degradadas económico-socialmente. Quer isto dizer que é possível que em áreas descontentes em Angola surjam movimentos terroristas “islâmicos”, que de maometano nada tenham a não ser a designação, adotada para infundir o medo e terror nas populações e autoridades. Aliás, parece claro que os vários movimentos terroristas islâmicos que surgem em África não resultam de um comando ou planificação central, antes sendo células mais ou menos autónomas que se imitam e mutuamente inspiram, buscando elementos comuns na propaganda e metodologias. Como dizem os especialistas da Chatham House, Alex Vines e Jon Wallace, “[Em África, a] linha entre o jihadismo, o crime organizado e a política local é muitas vezes turva e ainda mais complicada por fatores globais, como mudanças climáticas, crescimento populacional e migração.[8]”Quer isto dizer que o “caldo” referido pode surgir em Angola, e de repente, a bandeira islâmica ser atrativa para grupos insurrecionais descontentes com o governo.

A este primeiro fator, junta-se o alastramento que vai percorrendo o continente africano relativamente ao terrorismo islâmico e que vai cercando paulatinamente Angola. Na vizinha RDC, embora ainda longe das fronteiras angolanas, já se fala de terrorismo islâmico a propósito da ADF (Allied Democratic Forces), fazendo-se ligações desta organização ao Estado Islâmico. Na Tanzânia referem-se pequenos ataques como os de outubro de 2020, na aldeia de Kitaya na região de Mtwara; ataque que foi reivindicado por extremistas islâmicos que operam a partir do norte de Moçambique. Obviamente, que o caso de Cabo Delgado em Moçambique é paradigmático da combinação que se pode antever para Angola, um descontentamento socioeconómico aliado ao surgimento do terrorismo islâmico. Mais a norte, seja na República Centro Africana, seja no Chade, seja na Nigéria, há uma permanente ameaça de grupos terroristas que se identificam como islâmicos.

A porosidade das fronteiras, aliada às dificuldades socioeconómicas tornam-se magnetos poderosos para a expansão do terrorismo que se pode tornar uma ameaça interna em Angola, e já é certamente uma ameaça fronteiriça e em propagação pelo continente africano.

3. crime e pirataria marítima

De Cabo Verde à costa angolana, os ataques a navios aumentaram nos últimos anos. Nesta vasta região marítima, os piratas – inicialmente concentrados em torno do Delta do Níger – estenderam as suas atividades a todas as costas nigerianas, bem como ao Benin e ao Togo. Desde 2011, não menos de 22 atos de pirataria foram registados no Benin, afetando o tráfego no porto de Cotonou, que caiu 60%. O grande impacto económico do crime marítimo – que inclui pesca ilegal, tráfico de drogas e armas – nas costas da África Ocidental aumenta todos os anos. O Golfo da Guiné é agora considerado a zona vermelha marítima do continente.[9]

A posição de Angola tem sido clara, assumindo-se como motor estratégico do combate à pirataria, apontando para a criação de uma estratégia de financiamento governamental no Golfo da Guiné e na região dos Grandes Lagos, reconhecendo que a criminalidade tem vindo a crescer nesta área, pondo em perigo a própria região do ponto de vista nacional, internacional e regional. É nesta perspetiva que Angola atribui grande importância aos espaços marítimos que têm que ser controlados. De facto, dos 90 por cento dos crimes cometidos no oceano Atlântico, 70 por cento ocorrem no Golfo da Guiné o que é preocupante.

4. o aumento da concorrência entre as potências mundiais com interesses em bens africanos

Esta situação é mais geral e talvez menos iminente em causar disrupção que as anteriores, contudo, existe e a médio-prazo pode ser a principal ameaça para Angola. Alguns autores falam de uma nova “corrida para África”, como aquelas que ocorreram no final do século XIX a propósito da Conferência de Berlim e após as independências no âmbito da Guerra Fria. Angola foi obviamente parte central de ambas as “corridas”. A primeira serviu para lhe delimitar as fronteiras e completar a intervenção colonial portuguesa, enquanto na segunda foi um dos principais palcos de batalha do confronto EUA-União Soviética. A prestigiada revista inglesa The Economist resumia em 2019 a nova, e terceira, corrida para África, escrevendo que há uma terceira onda em andamento. O continente é importante e está a tornar-se cada vez mais importante, principalmente por causa de sua crescente participação na população global (até 2025 a ONU prevê que haverá mais africanos do que chineses). Governos e empresas de todo o mundo estão a correr para fortalecer os laços diplomáticos, estratégicos e comerciais.[10] Na verdade, quem primeiro discerniu as oportunidades do continente foram os chineses que desde o início do século XXI apostam fortemente em África, sendo Angola o seu principal parceiro, pelo menos em termos de dívida. O restante mundo só agora re-acordou para África. Mas de facto, verificamos a Turquia em busca de novos mercados e aliados desde que abandonou o alinhamento com a União Europeia, os países do Golfo Pérsico na mesma linha procurando projetos de diversificação para as suas economias, e a União Europeia, liderada por Alemanha e França, com a Itália e Espanha também com intensidade retomando velhos e arranjando novos contactos, quer por motivos económicos, quer para tentar estancar a imigração clandestina que afeta os seus países e pode fazer perder eleições aos seus governos. Igualmente a Rússia, no misto de retomada imperial e procura de negócios volta a África. Apenas os Estados Unidos da América prosseguem desde Donald Trump uma política adormecida em relação ao continente, não entendendo ainda muito bem o que estão a fazer de substancial, além de alguns ruídos contra a China e/ou a propósito do terrorismo islâmico. No entanto, esta letargia pode terminar.

Neste momento, é a China que vai muito à frente na nova corrida para África. A partir do momento em que europeus e norte-americanos entendam definitivamente- estamos ainda numa fase ambivalente-que a presença chinesa em África é uma ameaça aos seus interesses geopolíticos e económicos, acentuar-se-á a competição. Recorde-se que a China atualmente absorve de África cerca de 60% das exportações de cobalto; 40% de ferro; e 25-30% de suas exportações de cromo, cobre e manganês.

Consequentemente, o papel de Angola como detentor de matérias-primas fundamentais e força estabilizadora da RDC, outro repositório imenso de recursos, será determinante.

O momento atual das FAAs

Face ao exposto, facilmente se compreende que este tempo é de grande exigência para as FAAs que podem ser novamente chamadas a desempenhar funções de sobrevivência nacional.

Neste momento, de acordo com as fontes mais credíveis, as FAAs são compostas por aproximadamente 107.000 soldados ativos (100.000 Exército; 1.000 Marinha; 6.000 Força Aérea); estima-se ainda 10.000 na Polícia de Reação Rápida (2021).[11]

A despesa militar é de cerca de 1,7% do PIB, portanto, abaixo dos 2% que os Estados Unidos pretendem como parâmetro para os países da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte de que obviamente Angola não faz parte, mas cujo parâmetro pode servir de valor ideal de dispêndio militar). Não é uma despesa exagerada, ao contrário, do que se poderia pensar.

A maioria das armas e equipamentos militares angolanos são de origem russa, soviética ou do Pacto de Varsóvia; desde 2010, a Rússia continua a ser o principal fornecedor de equipamento militar para Angola.[12]

Em relação à sua capacidade militar em 2022, Angola está classificada em 66º lugar entre 140 países considerados pela Global Fire Power. [13] As suas forças contam com 320 tanques, 1210 veículos blindados, e várias peças de artilharia. Note-se, contudo, que os tanques são essencialmente antigos, adquiridos na década de 1990 com origem na União Soviética. Da pesquisa que realizámos, apenas conseguimos encontrar um veículo tipo tanque-destroyer razoavelmente moderno (de 2016), o PTL-02 Assaulter comprado à China. Quanto às forças navais, embora possuindo uma costa alargada e responsabilidades no Golfo da Guiné, o país apenas dispõe de 37 barcos de patrulha e nenhum navio de porte médio ou maior como corvetas, fragatas ou cruzador.

Quanto à Força Aérea são contabilizados 299 aviões, dos quais 71 caças, 117 helicópteros e 15 helicópteros de ataque.

Uma recente análise do África Monitor, que, há que anotar, tem refletido uma postura crítica do governo de João Lourenço, apresenta uma suposta factualidade, que mesmo que esteja exagerada ou represente um prisma demasiado pessimista, traça um quadro pouco animador acerca da prontidão e material da Força Aérea e Marinha Angolanas. Segundo, esta publicação, a frota da marinha de guerra tem os seus níveis de operacionalidade cronicamente “prejudicados por incumprimento de exigências de manutenção e/ou impreparação das suas tripulações.”[14] Também na Força Aérea a paralisia será a palavra-chave. De acordo com o mesmo periódico, estarão paralisadas “as unidades da frota de helicópteros de transporte que ainda operavam (Mil Mi-8, de fabrico russo), quer aparelhos da década de 1980-1990, quer unidades recondicionadas posteriormente”, existe uma “incapacidade para assegurar a manutenção de helicópteros de combate (Mil Mi-24)” e  também em “situação de quase paralisia estão(…), há mais tempo, as frotas de caças MiG-21 e MiG-23, de fabrico soviético, e Sukhoi (Su-22, Su-25, Su-30, Su-27).[15]

Especialistas com quem contactámos diretamente e que preferem manter anonimato asseguram que nos últimos anos não existiu qualquer compra significativa de material militar. Assim, aparentemente, pode existir uma necessidade de reforço com estes ramos das forças armadas.

Em resumo, vislumbram-se necessidades nas Forças Armadas de três tipos: material obsoleto e não modernizado, falta de manutenção do equipamento e impreparação de alguns quadros para atividades específicas. Tal torna, obviamente, importante a intervenção nas FAAs no sentido de aumentar o seu orçamento e elevar a sua capacidade operacional face aos desafios descritos.

Vetores de modernização das FAAs

De tudo o exposto resulta dois pressupostos de base que nos levam a uma conclusão simples. Os pressupostos são que as ameaças à soberania e integridade de Angola aumentaram nos últimos anos depois de um período de alguma acalmia após 2002. Hoje o país defronta-se com uma nova “corrida para África” das grandes potências e das emergentes, a ameaça do terrorismo designado como islâmico espalha-se pelo continente e a pirataria e criminalidade no golfo da Guiné ao longo da costa são uma realidade. A isto acresce o renovar das tendências separatistas internas e a forte reação da oligarquia anteriormente dominante ao combate contra a corrupção. A estes factos correspondem, neste momento, umas FAAs com algumas lacunas ao nível de material, prontidão e treino, o que pode, eventualmente, inviabilizar uma reação adequada em caso de incremento de alguma das ameaças expostas.

Resulta da equação destes pressupostos que uma política de modernização das FAA em termos de equipamento, treino e prontidão/ manutenção é fundamental. Ao contrário, do que muitos alegariam é necessário um reforço do orçamento militar e uma reforma modernizadora das Forças Armadas.

O Orçamento Geral do Estado para 2022 ainda não reflete totalmente essas necessidades. Se reparamos, de 2021 para 2022 há um incremento nominal dos gastos de defesa de 19,7%. Basta pensar que a inflação oficial se situa na ordem dos 27% em 2021[16]para se perceber que em termos reais o dispêndio com a defesa diminui, levando provavelmente a cortes na esfera militar. Por sua vez, os gastos com a defesa equivalem a 1,4%PIB.[17]

Entendemos que a modernização das FAA tem um vetor qualitativo que deve ser definido pelos especialistas na área e envolver a prontidão das Forças Armadas, a sua capacidade de implantação e níveis de sustentabilidade, bem como a qualidade da força que pode exercer. Contudo, o vetor que nos debruçamos neste relatório é o quantitativo e apresentamos a sugestão muito simples já adotada pelos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), que é a de situar a despesas com a defesa na ordem dos 2% do PIB.[18] Este não é um número mágico e pode ser objeto de muitas críticas, mas representa um parâmetro objetivo e quantificável, e na verdade confere ao poder político um instrumento mensurável para atingir[19], o que pode ser um avanço nas políticas de boa governação e transparência que se pretendem implementar em Angola.


[1] Cfr. Pedro Pezarat Correia (1991), Descolonização de Angola: jóia da coroa do império português, Lisboa: Inquérito; Silva Cardoso (2000) Angola, anatomia de uma tragédia, Lisboa: Oficina do Livro; «Involvement in the Angolan Civil War, Zaire: A Country Study». United States Library of Congress;

 Donald S. Rothchild (1997). Managing Ethnic Conflict in Africa: Pressures and Incentives for Cooperation. Brookings Institution Press. pp. 115–116; Ndirangu Mwaura, (2005). Kenya Today: Breaking the Yoke of Colonialism in Africa. pp. 222–223; Chester A Crocke, Fen Hampson, Pamela Aall, Pamela (2005). Grasping The Nettle: Analyzing Cases Of Intractable Conflict.

[2] Para uma boa definição destes temas na África do Sul, mas com aplicação conceitual a Angola ver Judicial

Commission of Inquiry into State Capture Report: Part 1  [Zondo Report] (2022).

[3] Simão Lelo, (2022), Ataques em Cabinda: Aumentam apelos para uma solução, Deutsche Welle, https://www.dw.com/pt-002/ataques-em-cabinda-aumentam-apelos-para-uma-solu%C3%A7%C3%A3o/a-60489955

[4] Cópia de documentos na posse do CEDESA e referidos na imprensa, por exemplo, em https://e-global.pt/noticias/lusofonia/angola/chefe-do-estado-maior-congoles-protesta-contra-violacoes-do-territorio-por-angola/

[5] Morais, Rafael, (2021), Miséria & Magia, MakaAngola & UFOLO.

[6] Benjamin Dunda (2022), O que não dizem do Ruanda e de Kagame, https://camundanews.com/noticia/9593/dupla-nacionalidade-da-presidente-do-tribunal-constitucional-nao-viola-constituicao.html

[7] Laura McCreedy (2022), What Can MONUSCO Do to Better Address the Political Economy of Conflict in DRC? https://reliefweb.int/report/democratic-republic-congo/what-can-monusco-do-better-address-political-economy-conflict-drc

[8] Alex Vines e Jon Wallace, (2021), Terrorism in Africa, Chatham House, https://www.chathamhouse.org/2021/09/terrorism-africa

[9] Baudelaire Mieu (2021), Cameroon, Nigeria, Angola: Increased pirate activity along western coasts, The Africa Report, https://www.theafricareport.com/70478/cameroon-nigeria-angola-increased-pirate-activity-along-western-coasts/

[10] The Economist (2019), The new scramble for Africa, https://www.economist.com/leaders/2019/03/07/the-new-scramble-for-africa

[11] Angola. The World Factbook (2022) CIA, https://www.cia.gov/the-world-factbook/countries/angola/#military-and-security

[12] Idem nota supra

[13] Cfr. https://www.globalfirepower.com/country-military-strength-detail.php?country_id=angola 

[14] África Monitor, Nº 1334 |20.JAN.2022 |Ano XIX.

[15] Idem nota supra.

[16] https://www.bna.ao/#/, taxa de inflação apresentada a 28-01-2022  é de 27,03%.

[17] Ministério das Finanças, (2021), RELATÓRIO DE FUNDAMENTAÇÃO

Orçamento Geral do Estado 2022, p.68.

[18] North Atlantic Treaty Organization, (2014) “Wales Summit Declaration,” press release,

September 5, www.nato.int/cps/en/natohq/official_texts_112964.htm

[19] Sobre as críticas e vantagens ver Jan Techau (2015), THE POLITICS OF 2 PERCENT. NATO and the Security Vacuum in Europe. Carnegie Foundation.