A optimização da estrutura do Executivo
Introdução
A estrutura de um governo é definidora dos objectivos e receios da liderança e contribui para o sucesso da governação.
De uma forma geral, governos com uma composição alargada não são eficientes e surgem devido à necessidade que o chefe do Governo tem em distribuir prebendas por vários aliados ou potenciais rivais, bem como como forma de evitar conspirações contra o seu poder, fazendo uma equipa alargada de ministros entrar em competição. Outras vezes, mesmo com equipas pequenas, a máquina administrativa do Estado é demasiado pesada e burocrática e não executa as decisões políticas, na prática, sabotando qualquer desejo reformista. Acontece ainda que a opção por governos pequenos acaba por criar super-ministérios ingovernáveis, perdendo-se os ganhos de eficácia desejados.
O primeiro dos casos, equipas alargadas e estruturas complexas como forma de dividir benefícios e colocar dignatários em concorrência foi a solução desenvolvida por Hitler na Alemanha Nazi e adoptada por ditadores por esse mundo fora. A segunda situação, de embate entre a vontade política de um governo reformista e uma burocracia imobilista aconteceu na Grã-Bretanha com Margareth Thatcher nos anos 1980. O estabelecimento de super-ministérios ingovernáveis foi um erro do primeiro governo de Pedro Passos Coelho em Portugal em 2011. O regime de Hitler desmoronou-se com a derrota na Segunda Guerra Mundial (1945) e só tarde, o ditador nazi percebeu as vantagens da eficiência e concentração de poder ao entregar a produção militar a um único ministro, Albert Speer, que com a sua aproximação tecnocrata prolongou a resistência germânica até ao limite. Na Grã-Bretanha, Thatcher viu-se obrigada a criar equipas específicas para ultrapassar as resistências da administração pública e ter sucesso nas suas reformas. Em Portugal, Pedro Passos Coelho viu-se obrigado a remodelar o governo a alargá-lo um pouco.
Não havendo uma solução permanente para a estrutura de um executivo, algumas notas resultam de um breve sumário histórico. Os governos devem ter um tamanho médio, nem exageradamente grande, nem pequeno. Um dos principais problemas com que se deparam é a articulação com a administração pública e burocracia.
A actual estrutura governativa em Angola
Assim sendo, o objecto deste texto é procurar a solução óptima para a estrutura do executivo em Angola. Neste momento, é claro que a estrutura do governo de Angola é excessiva. Não contabilizando, obviamente, o Presidente da República e o Vice-Presidente, temos 33 ministros. São eles:
Ministro e Director do Gabinete do Presidente
Ministro de Estado para a Coordenação Económica
Ministro de Estado para a área Social
Ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança
Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil
Ministro da Construção e Obras Públicas
Ministro da Acção Social, Família e Promoção da Mulher
Ministro da Administração do Território e Reforma do Estado
Ministro da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social
Ministro da Agricultura e Florestas
Ministro da Comunicação Social
Ministro da Cultura
Ministro da Defesa Nacional
Ministro da Economia e Planeamento
Ministro da Educação
Ministro da Energia e Águas
Ministro da Indústria
Ministro da Justiça e Direitos Humanos
Ministro da Juventude e Desportos
Ministro da Saúde
Ministro das Finanças
Ministro das Pescas e do Mar
Ministro das Relações Exteriores
Ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Informação
Ministro do Ambiente
Ministro do Comércio
Ministro do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação
Ministro do Interior
Ministro do Ordenamento do Território e Habitação
Ministro do Turismo
Ministro dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria
Ministro dos Recursos Minerais e Petróleos
Ministro dos Transportes
Uma análise perfunctória desta estrutura, rapidamente, demonstra que há excesso de Ministros e muito provavelmente atropelo de competências.
Vejamos, em primeiro lugar, ao nível do apoio ao Presidente da República. Temos três ministros: Ministro e Director do Gabinete, Ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança, Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil. Justificar-se-ia reduzir esta estrutura a um Ministro da Presidência. As funções da Casa de Segurança seriam entregues aos respectivos Ministros do Interior e da Defesa, e o Director de Gabinete seria um auxiliar administrativo e não alguém com categoria ministerial. Isto não quer dizer que o Presidente não criasse equipas especiais dinâmicas para o auxiliar, mas este será um assunto tratado mais à frente.
Em relação aos Ministérios. A área da economia está inflacionada com Ministros a mais que certamente se atropelam e confundem: Ministro de Estado para a Coordenação Económica, Ministro da Economia e Planeamento, Ministro da Indústria, Ministro do Comércio. Em primeiro lugar, nesta fase o Presidente da República não deveria delegar a coordenação económica. A responsabilidade pelo desempenho económico ser-lhe-á sempre atribuída. Assim, o Ministério de Estado para a Coordenação Económica seria extinto. Os restantes Ministérios mencionados deveriam ser agrupados num único Ministério da Economia. Depois, há dois Ministérios na área das Obras e Urbanismo que se multiplicam: Ministério do Ordenamento do Território e Habitação e Ministério da Construção e Obras Públicas. Estes dois deviam ser unificados num único Ministério das Obras Públicas, a que seria adicionado o Ministério dos Transportes. Na área social, também era necessário um emagrecimento, fundindo as estruturas existentes em dois Ministérios: Ministério da Saúde e Ministério da Acção e Segurança Social. O Ministério da Administração do Território e da Reforma do Estado veria adicionado a Administração Pública. Autonomizando-se um Ministério do Trabalho. O Ensino Superior voltaria ao Ministério da Educação. O Ministério da Cultura abarcaria também a Ciência e Inovação. Neste momento, o projecto educativo em Angola ainda é básico, i.e., construir escolas e universidades, e formar professores. Isto deve estar concentrado num Ministro. A parte mais imaterial ficaria numa Ministério mais abrangente. O Ministério da Comunicação Social deveria ser integrado com o Desporto e Juventude.
Estrutura proposta para o Governo
Deste modo, a nova estrutura do Governo em Angola seria mais ágil e eficiente e seria composta pelos seguintes Ministérios:
Ministro da Presidência
Ministro das Obras Públicas e Transportes
Ministro da Acção e Segurança Social
Ministro da Administração do Território, Administração Pública e Reforma do Estado
Ministro do Trabalho
Ministro da Agricultura e Florestas
Ministro da Comunicação Social, Juventude e Desportos
Ministro da Cultura, Inovação e Ciência
Ministro da Defesa Nacional
Ministro da Economia
Ministro da Educação
Ministro da Energia e Águas
Ministro da Justiça e Direitos Humanos
Ministro da Saúde
Ministro das Finanças
Ministro do Mar
Ministro das Relações Exteriores
Ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Informação
Ministro do Ambiente e Transição Energética
Ministro do Interior
Ministro do Turismo
Ministro dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria
Ministro dos Recursos Minerais e Petróleos
De 33 ministros passar-se-ia para 23 ministros. Ainda é uma estrutura robusta que permite alguma satisfação de ambições variadas e distribuição de compensações, mas mais leve, e tem duas vantagens, aligeira o sufoco ministerial que rodeia o Presidente da República, o que tem parecido contribuir para a chegada habitual de informação errada e falsa, sem a devida responsabilização, e evitaria a sobreposição de competências que acontece na actual estrutura, o que leva à paralisação de muitos serviços.
Tabela 1 – Tabela comparativa das estruturas ministeriais
Actual estrutura | 33 ministros |
Estrutura proposta | 23 ministros |
Note-se que pelo mundo fora, existe uma certa tendência a situar o número de ministros na ordem dos 20, consequentemente esta proposta estaria em linha com as modernas tendências.
Tabela 2 – Quadro comparativo do número de ministros em países diferentes[1]
Portugal | 19 ministros |
Estados Unidos da América | 21 ministros |
Reino Unido | 22 ministros |
África do Sul | 28 ministros |
Botswana | 19 ministros |
Equipas Especiais da Presidência
Todavia, entendemos que este “emagrecimento” do governo não é suficiente para garantir uma governação eficaz. O Presidente da República tem de garantir que obtém informação certa e que as suas determinações são executadas e cumpridas. Tem de estar rodeado de um grupo tecnocrático de apoio. Consequentemente, ao nível da Presidência devem ser criadas equipas com um funcionamento focado. Em rigor, seriam estabelecidos pequenos grupos operacionais para actuar em áreas-chave do Estado, dependentes directamente do Presidente da República, sem intermediários políticos e administrativos. Esses pequenos grupos seriam compostos por pessoas não comprometidas com assuntos passados, que tivessem competência e acreditassem na política encetada pelo Presidente, ajudando-o a concretizá-la. Simultaneamente, proporiam políticas, implementavam-nas e monitorizavam a sua eficácia. Legalmente, estas equipas não estariam incorporadas na Administração Pública; seriam nomeações políticas dotadas de flexibilidade.
Tabela 3 – Esquema de funcionamento das Equipas Especiais da Presidência
Com estas duas medidas: racionalização da estrutura
ministerial e criação de equipas focadas dependentes do Presidente seria
assegurado um governo eficiente e tecnicamente ágil.
[1] Não inclui os Chefes de Governo (Presidente, Primeiro-Ministro, etc) e apenas contabiliza os que se sentam no Conselho de Ministros ou Gabinete.