China investiu 1,4 bilhão dólares na Ferrovia Tanzânia-Zâmbia (TAZARA).

Qual o impacto no Corredor Lobito?

JOÃO SHANG

Investigador Associado ao CEDESA (área China-África)

Visiting Professor na Beijing University-International Business and Economics

No vasto planalto do sul de África, estende-se uma artéria de aço que simboliza a amizade e a cooperação entre a China e a África — a Ferrovia Tanzânia-Zâmbia (TAZARA). Com aproximadamente 1.860 km de extensão, a linha ferroviária liga o porto de Dar es Salaam, no oceano Índico, à cidade de Kapiri Mposhi, no centro da Zâmbia, atravessando o planalto da Tanzânia e conectando os países do interior ricos em recursos minerais ao mundo exterior.

A TAZARA não é apenas um projeto de infraestrutura, mas também um símbolo histórico da independência econômica e da integração regional africana. Para países ricos em recursos como Zâmbia, Tanzânia e República Democrática do Congo (RDC), esta ferrovia desempenha um papel fundamental no transporte de minerais, promoção do comércio e fortalecimento da cooperação regional.

Zâmbia: a linha vital da economia do cobre

A Zâmbia é um dos principais produtores mundiais de cobre, e as exportações do metal representam cerca de 70% das receitas de divisas do país. Com a TAZARA, a Zâmbia passou a dispor de uma rota ferroviária independente para o oceano Índico, reduzindo a dependência das rotas controladas por antigos regimes coloniais.

Por meio da ferrovia, o cobre produzido na região do Copperbelt é transportado até o porto de Dar es Salaam para exportação à Ásia e à Europa. No auge das suas operações, a TAZARA chegou a movimentar mais de 1 milhão de toneladas de cobre e outros produtos por ano. Essa rede de transporte reduziu significativamente os custos logísticos e garantiu a estabilidade da economia zambiana.

Além disso, a ferrovia estimulou a integração entre as áreas mineiras e as cidades industriais, promovendo o desenvolvimento urbano e industrial de localidades como Ndola e Kapiri Mposhi, e criando milhares de empregos diretos e indiretos.

Tanzânia: elo entre o porto e o corredor econômico

Para a Tanzânia, a TAZARA não é apenas uma ferrovia nacional, mas sim um corredor internacional de comércio. O porto de Dar es Salaam tornou-se, graças à ferrovia, um dos principais centros de exportação de minerais da África Oriental.

O aumento do volume de cargas — minerais, combustíveis, fertilizantes e produtos industriais — impulsionou o crescimento do porto e fomentou a economia das cidades ao longo da linha, como Mbeya e Mpika. Assim, formou-se um novo eixo econômico interno. A existência da TAZARA também fortaleceu a posição geoestratégica da Tanzânia dentro da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), consolidando o país como ponto de convergência regional.

Congo Kinshasa: rota alternativa ao Corredor do Lobito para exportação mineral

A região de Katanga, no sudeste da RDC, é extremamente rica em cobre, cobalto, tântalo e lítio. Historicamente, a exportação desses minerais era dificultada por uma infraestrutura rodoviária e ferroviária precária. Com o fortalecimento da cooperação regional, muitas empresas mineradoras congolesas passaram a utilizar a TAZARA: transportam seus produtos via Lubumbashi até a Zâmbia, e de lá seguem de trem até Dar es Salaam.

Embora esta rota seja ligeiramente mais longa que o corredor de Lobito (em Angola), ela oferece maior estabilidade, segurança e confiabilidade, especialmente em períodos de instabilidade política. Com a crescente demanda mundial por minerais estratégicos —especialmente cobalto e cobre —, a TAZARA tornou-se uma via essencial para o escoamento das riquezas da RDC, garantindo uma fonte estável de receitas em moeda estrangeira. A TAZARA promoveu a integração logística entre os países do interior e os do litoral do sul da África. Além de conectar a Zâmbia e a Tanzânia, a ferrovia interliga-se, por meio de ramais e estradas, com RDC, Maláui, Ruanda e Burundi, proporcionando-lhes acesso direto ao mar.

Esse sistema de conectividade aumentou significativamente o volume de comércio intra-africano, contribuindo para os objetivos da Zona de Livre Comércio Continental Africana (AfCFTA).

Redução de custos e aumento da eficiência

Comparado ao transporte rodoviário, o ferroviário é mais econômico, mais seguro e menos poluente. Para as empresas mineiras, o uso da ferrovia pode reduzir 30% a 40% dos custos logísticos. A ferrovia também oferece maior regularidade e menor risco de deterioração das cargas minerais.

Antes da ferrovia, muitas regiões atravessadas pela linha eram economicamente isoladas. A chegada da TAZARA gerou novas oportunidades de emprego, comércio e serviços, promovendo avanços em educação, saúde e infraestrutura social. Dessa forma, o projeto tornou-se um exemplo emblemático da cooperação sino-africana voltada ao bem-estar das populações locais.

China investiu 1.4 bilhão dólares americanos para modernização de ferrovia de TAZARA

Apesar da sua importância histórica, a TAZARA enfrenta desafios crescentes:

Infraestrutura envelhecida: trilhos e locomotivas obsoletos reduzem a velocidade e a capacidade de carga; mais até o momento, a Ferrovia TAZARA (Tanzânia–Zâmbia) continua a ser um dos maiores projetos de cooperação integral já apoiados pela China no exterior.

Devido ao desgaste ao longo dos anos, à obsolescência dos equipamentos e a problemas de gestão, a capacidade operacional da ferrovia diminuiu significativamente por um período prolongado. Para superar essa situação, no início do século XXI, China, Tanzânia e Zâmbia realizaram diversas negociações e inspeções conjuntas, chegando a um acordo preliminar sobre a revitalização da Ferrovia TAZARA.

Nos últimos anos, com o aumento dos preços internacionais das commodities, especialmente do cobre, tanto a Tanzânia quanto a Zâmbia tornou-se mais empenhadas em acelerar a exportação de seus recursos minerais. Nesse contexto, ambos os países expressaram o desejo de modernizar e expandir a ferrovia, a fim de atender à crescente demanda por transporte de carga.

Durante a Cúpula de Pequim do Fórum de Cooperação China–África, realizada em setembro de 2024, os chefes de Estado dos três países — China, Tanzânia e Zâmbia — assinaram um Memorando de Entendimento sobre o Projeto de Revitalização da Ferrovia TAZARA.

No início deste ano, a Administração da Ferrovia TAZARA firmou um acordo de concessão com uma empresa chinesa, pelo qual a parte chinesa investirá 1,4 bilhão de dólares americanos para modernizar a ferrovia de TAZARA.

Porquê modernizar a ferrovia de TAZARA?

Após o processo de modernização — que incluiu reforço das vias, atualização do sistema de sinalização, renovação das locomotivas e introdução de sistemas digitais de gestão — a eficiência e a segurança ferroviária melhoraram de forma substancial. A velocidade média dos comboios passou de 30–40 km/h para 60–80 km/h, e o tempo de rotação do transporte de mercadorias diminuiu cerca de 40%. A capacidade anual aumentou de menos de 1 milhão de toneladas para 3 a 5 milhões de toneladas, com potencial para crescer ainda mais. Isto permite que o cobre da Zâmbia e o cobalto da República Democrática do Congo (RDC) sejam exportados de forma mais estável e eficiente para os mercados internacionais. Com a modernização, o sistema logístico entre o interior e o porto tornou-se mais fiável e rápido. O custo de transporte ferroviário reduziu-se em cerca de 30% a 40% em relação ao transporte rodoviário, e o consumo energético diminuiu quase para metade.

Por exemplo, o transporte de cobre desde a região de Copperbelt até ao porto de Dar es Salaam, que antes demorava entre 10 e 14 dias, agora realiza-se em 5 a 7 dias. Para as empresas mineiras, isto representa poupança de custos, maior previsibilidade logística e competitividade acrescida no mercado global de metais.

O porto de Dar es Salaam também beneficia: o aumento do volume de exportações gera maiores receitas portuárias, de armazenagem e de câmbio, resultando numa situação de ganhos mútuos para todos os países envolvidos. A modernização da TAZARA não é apenas uma melhoria técnica — ela impulsionou a criação de um corredor económico transnacional baseado no conceito “recursos–transporte–transformação–exportação”. O porto de Dar es Salaam foi ampliado e modernizado, tornando-se um centro integrado para exportação mineral e transporte de contentores. Assim, a TAZARA deixou de ser apenas um canal de escoamento de matérias-primas, passando a constituir a espinha dorsal da integração económica regional.

O processo de modernização criou mais de 30.000 empregos diretos e indiretos em construção, manutenção, logística e gestão. Cidades como Mpika, Mbeya e Kapiri Mposhi cresceram rapidamente, com maior dinamismo comercial e desenvolvimento imobiliário.

As novas composições de passageiros são mais seguras e confortáveis, facilitando o turismo e a mobilidade interna.

Para as comunidades rurais, a ferrovia representa uma ligação vital a escolas, hospitais e mercados, melhorando significativamente a qualidade de vida ao longo da linha.

A modernização reforçou a integração económica e institucional entre Tanzânia, Zâmbia e RDC. A ferrovia tornou-se um elo físico e político que favorece acordos aduaneiros, facilitação de fronteiras e comércio intrarregional. Este avanço está em consonância com a Agenda 2063 da União Africana, que visa construir uma África interligada, industrializada e autossuficiente.

A nova TAZARA é também um instrumento de apoio à Zona de Comércio Livre Continental Africana (AfCFTA), pois contribui para a mobilidade de mercadorias e pessoas no eixo leste-sul do continente. Reforço da cooperação sino-africana e da confiança internacional. A TAZARA modernizada é hoje um dos marcos mais emblemáticos da Iniciativa “Cinturão e Rota” (BRI) no continente africano.

Os resultados da modernização da Ferrovia Tanzânia-Zâmbia são profundos e multifacetados.

A linha recuperou a sua função estratégica de transporte e passou a desempenhar um papel central no crescimento económico da África Austral e Oriental.

A “nova TAZARA” acelera a exportação de minerais, dinamiza os portos, revitaliza as cidades e estreita a cooperação regional. Do ponto de vista económico, social, ambiental e político, a modernização desta ferrovia simboliza o renascimento da infraestrutura africana e o espírito de parceria ganha-ganha entre a China e a África, apontando para um futuro africano mais interligado, próspero e sustentável.

Perspetivas futuras e valor estratégico

No contexto da Iniciativa Cinturão e Rota da China, a TAZARA ganha nova relevância estratégica. No futuro, deverá consolidar-se não apenas como rota de transporte de minerais, mas também como corredor econômico integrado:

Agregação de valor aos minerais – criação de zonas industriais para fundição e processamento de cobre e cobalto; Formação de um corredor econômico regional – integração entre infraestrutura ferroviária, rodoviária, portuária e energética; Transporte verde e sustentável – o transporte ferroviário emite menos carbono e favorece o desenvolvimento ecológico; Símbolo da cooperação sino-africana moderna – a revitalização da TAZARA representa um novo modelo de parceria baseada em benefício mútuo e desenvolvimento conjunto.

A Ferrovia Tanzânia-Zâmbia é uma linha que atravessa fronteiras e gerações. Ela não apenas testemunha a amizade entre os povos da China e da África, mas também sustenta o pulso econômico do sul do continente. Do cinturão do cobre da Zâmbia às minas de cobalto da RDC, até o porto de Dar es Salam, a TAZARA conecta as riquezas minerais africanas ao mercado global.

Num novo contexto histórico, com a crescente integração regional africana e a cooperação no âmbito da Iniciativa Cinturão e Rota, a TAZARA certamente renascerá com vigor renovado, continuando a desempenhar um papel insubstituível no transporte de minerais e no desenvolvimento econômico da África.